quarta-feira, novembro 12, 2008

XIII Congresso Distrital do PS

Moção apresentada dia 8 de Novembro no Congresso Distrital do PS

"Um apelo à Militância.
Da demonização da Política ao esvaziamento dos partidos.

Bem sei que o tema que aqui se fala parecerá de importância menor, bem sei que a muitos sequer merecerá ser ouvido, mas é talvez por isso mesmo a primeira razão pela qual o entenda pertinente. Porque é no olvidar das origens e na negação das evidências, que quase sempre se aligeiram os fins.
Sim, bem sabemos que muitos e importantes desafios se nos deparam – do desenvolvimento e da revitalização da Economia, da competitividade e coesão regional, da convergência com a Europa, entre vários outros que vulgarmente referimos – e depois claro, todos os instrumentos, as mil e uma siglas que trajamos nos discursos, e os quais maioria das vezes, o vulgar cidadão não entende, nem tal deseja.
A Política é comunicação, a política é a capacidade de fazer acreditar, de nos levar à esfera do sonho – bastará olharmos para Obama e o seu “Sim, nós conseguimos” – e a imprescindível capacidade de concretização desses sonhos.

A Política, a verdadeira e pura Política como a entendo, é por isso elevada a forma de arte e a mais nobre delas, porque não se limita a olhar a realidade e a criticá-la, a analisá-la, a dissecá-la, mas é maior que isso porque sobre ela opera. Ela tem a capacidade de transformar a realidade, de fabricar mudanças, de alterar a vida das pessoas – de as fazer atingir a tal orbe da utopia.

Contudo, eu que tenho 31 anos, quase tantos como este partido em que militamos e julgo acreditarmos, e no qual aos 18 entendi convicto fazer parte, gostaria que, se um dia filhos tiver, possam eles ter a mesma oportunidade e vontade de aderir a um partido socialista, um partido que como hoje tenha ambições e possibilidades de fazer Política, capacidade de mover e comover para a esperança e confiança, e capacidade para dar razão material a essa confiança; um partido capaz de chegar ao poder e executá-lo pelo bem de todos e do país.
Talvez estas palavras vos pareçam extemporâneas, desapropriadas, inúteis – mas creio realmente não estarmos muito longe da nefasta possibilidade de o contrário do que desejo se materializar.

Hoje a política e os políticos são vistos como intrujões – ou um mal que se vai aceitando porque nos é imposto. Um político é tido como um interesseiro, alguém que não sabe fazer muito mais na vida, que procura poder e regalias; e os partidos como insidiosas organizações onde apenas os maus singram, e que servem somente de lobbies para garantir essas condições aos que deles fazem parte.
É injusto, perverso e frustrante, mas é assim que somos vistos pela generalidade dos cidadãos e isto deve obrigar-nos a reflectir – e nunca, nunca, mostrarmo-nos a isso indiferentes. A Política, logo os políticos, não existem sem os cidadãos.
Mas os cidadãos desinteressam-se continuamente, e em especial cada vez mais, os jovens.
A nossa Sociedade, o Estado que todos somos e a todos representa, não consegue, ou sequer tenta, através das suas organizações e a começar pela Escola, educar os jovens para a necessidade de, no contexto da cidadania e da participação cívica, igualmente educar para a participação política; pelo contrário, há um “politicamente correcto” não abordar a Política, mas fugir de tudo o que possa aludir-lhe – a subversão total dos princípios da Democracia, como se a Política fosse algo hostil que nos prejudica do qual nos devamos distanciar, falhando assim no sempre necessário fortalecer dos fundamentos da nossa Sociedade e dos pilares que a suportam. Os partidos naturalmente são também grandes responsáveis, e neles, igualmente o PS.

Hoje, cada vez mais, assistimos a esta moda anti Política políticos e partidos, instigada muitas vezes – a par duma Sociedade alienada, globalmente consumista e de prazeres efémeros e pouco maturados – por políticos dissimulados ou malogrados, personalidades tantas vezes dúbias, normalmente movidas desde logo por razões erradas como o despeito ou a desforra, que por uma mera questão de capacidade mediática ou qualquer outra, conseguem puxar a si vinda dos partidos, entidades colectivas e regradas, a transferência de confiança, do depósito do sonho e da vontade dos cidadãos, para muitas vezes uma só personalidade, se tornar mais valorizada que toda uma organização; algo que acredito, perigoso ainda mais para os falados tanto como esquecidos princípios da Democracia. Individualidades sem contenção ou limitações, que por sua única vontade ou pelos interesses que entendam, operacionalizam em si mesmos um poder excessivo, que em Democracia deve ser partilhado e equilibrado, como forma de regulação.

É por isso uma missão necessária, que se liga à essência e origem da Política, credibilizá-la, fazer sentir da sua real necessidade – e trazer de novo as pessoas a si e aos partidos – e aí propalar a necessidade da militância – esta no sentido da participação, do cuidar, do viver, do dar corpo voz e pensamento – e mãos de trabalho – a um partido que tem de ser uma organização viva, dinâmica, múltipla, regenerada.

Esse é o PS que ambiciono, e que será condição para evitar no futuro a sua obliteração, quiçá mesmo evitar o condicionamento do livre exercício da Política, e a própria sobrevivência da Democracia e de todos os Valores que sem ela se esvaem e que são os princípios fundadores do nosso partido.
E se trouxe este tão, bem sei, de somenos interesse considerado assunto, é por acreditar que sou ainda jovem, e por observar os que como eu ou mais jovens, afiançam tudo isto como garantido a ponto de não carecer de importância, que acredito que este caminho que trilhamos terá algures um fim lá à frente, se rapidamente outro não soubermos encontrar. A bem do PS e dos ideais que defendemos, da Política e da Democracia; é por crer que a procura desse caminho também compete a esta Federação, porque desde logo, compete a cada um de nós.

Viva o PS!
Hugo Cristóvão, Presidente da CPC de Tomar"
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