CT – A apresentação de uma só lista às eleições, significa que conseguiu unir o PS Tomar ou a corrente dos históricos já desistiu da liderança concelhia do PS?
Bom, em primeiro lugar não sei bem o que entende por corrente dos históricos, uma vez que a generalidade daqueles que podemos considerar históricos do PS em Tomar, ou estão na minha lista ou não estando são apoiantes. E relembro que já no anterior mandato concorri em lista única.
A verdade é que o PS em Tomar viveu alguns momentos mais conturbados, que vinham já dos tempos em que o PS esteve à frente da CM de Tomar e a consequente perda, que provocou tempos de instabilidade e conflito que finalmente serenaram. Hoje, e já de há algum tempo, o PS Tomar é um espaço de objectivos concordantes que têm no concelho e nos tomarenses o foco de atenção, o que é muito mais importante que quaisquer ambições pessoais, por mais que estas possam ser legítimas.
Claro que isto não quer dizer que estejamos sempre todos de acordo, estranho e improfícuo seria se assim fosse. É natural que existam vozes divergentes, mas importante é encontrar nas diferenças pontos comuns e saber distinguir o acessório dos grandes propósitos, descobrindo nessas diferenças aquilo que a todo o momento nos torna mais fortes e coesos.
CT – Quais os objectivos e projectos a desenvolver a partir de agora?
O PS estará empenhado em ajudar os seus autarcas, na câmara, na assembleia, nas juntas, a desenvolver o melhor trabalho pelo concelho, com especial enfoque nesta situação desabitual de partilha de gestão, onde a todo o momento procuraremos mediar as diferenças que permitam o cumprimento de duas obrigações: a lealdade assumida no compromisso com os parceiros da coligação, e a lealdade para com o programa que apresentámos e foi votado pelos tomarenses.
Paralelamente, e como é evidente estaremos a trabalhar para, além das eleições de âmbito nacional para as quais queremos contribuir com empenho, como as presidenciais do próximo ano, chegarmos às próximas autárquicas mais fortes, melhor preparados, mais capazes para mostrar aos nossos conterrâneos que o PS tem o melhor projecto e os melhores executantes para sermos depositários da sua confiança. Isso significa planear, discutir, aumentar a participação política, e a todo o momento procurar mais pessoas com vontade e capacidade para trabalhar na causa pública.
A nova Comissão Política do PS de Tomar é o reflexo dessa vontade: maior, renovada, com militantes que combinam a experiência e o conhecimento diversificado dos problemas do concelho e das áreas do saber, com a vontade de intervir e o sangue renovado pelas ideias frescas.
CT – Como analisa o trabalho que está a ser desenvolvido pelos vereadores do PS no executivo camarário?
Penso que nos pelouros tutelados pelos vereadores socialistas começam a sentir-se mudanças claras. José Vitorino no Urbanismo está a arrumar a casa. Todos percebemos que este é um dos mais complexos e sensíveis pelouros da gestão de um município, e onde é fácil deixar acumular problemas que depois se arrastam meses, anos. Um pelouro que é dos que mais mexe com as necessidades concretas dos cidadãos, e onde estes maiores críticas têm apontado nos últimos anos. Parece-me indiscutível que o vereador é, na junção das vertentes técnica e política, o mais preparado para a difícil tarefa que tem pela frente.
Já Luís Ferreira tem pelouros diferentes com contextos e dificuldades diferentes. No caso do Turismo e da Cultura, não poderemos dizer que têm essa premência diária com os cidadãos, mas por outro lado são importantíssimos para a promoção, desenvolvimento e diferenciação do concelho, essencial por isso a vários níveis entre os quais o económico, tendo por exemplo a dificuldade de ter poucos recursos humanos. Já a Protecção Civil uma vez mais é uma realidade totalmente diferente: questões sensíveis ao nível dos recursos humanos, uma grande necessidade de organização, acima de tudo pela natureza das funções que não permitem falhas ou onde as falhas podem originar problemas graves e por isso onde há também muito a fazer.
Temos naturalmente que enquadrar ambos numa situação de coligação onde o PS é minoritário e portanto não tem forçosamente a última palavra e não pode esperar ganhar todos os debates da governação. Além disso, devem igualmente relembrar-se as dificuldades orçamentais que não permitem facilidades.
CT – Passados quase seis meses, depois das eleições autárquicas, que balanço faz da coligação PS/PSD no executivo?
Ainda é um pouco cedo, em todo o caso penso que há transformações evidentes. Por um lado na postura dos eleitos do PSD, a começar no Presidente de câmara, que precisam agora de dialogar e chegar a consensos, enquanto em anteriores mandatos todos sabemos que isso não ocorria sequer entre eles: o que o então presidente António Paiva decidia, como decidia, quando decidia, era assunto fechado e sem discussão.
Penso aliás que é algo que o PSD em Tomar ainda não percebeu, ainda que seja um seu problema. Tanto os eleitos na câmara e na assembleia municipais, como as direcções anterior e actual do PSD, continuam a querer defender a “obra de António Paiva” como sendo uma grande coisa quando começa a ser difícil disfarçar, que todas as condicionantes somadas, os mandatos de António Paiva foram talvez os piores mandatos camarários do pós 25 de Abril.
CT – A recente demissão nos bombeiros e as alegadas acusações ao vereador Luís Ferreira são sinal de que estão a surgir conflitos com funcionários da autarquia?
Estranho seria se não existissem conflitos, porque isso significaria uma de duas coisas: ou que tudo estava bem como estava, ou que estando mal, os vereadores socialistas não estavam a alterar nada. Ora como nenhuma das situações se verifica, é muito natural que esses pequenos conflitos apareçam. Quando as pessoas estão habituadas a um determinado sistema é espectável que não gostem de mudanças, em especial quando isso possa mexer com os seus interesses pessoais. Isso não pode contudo condicionar a acção dos que têm a responsabilidade de ver acima desses interesses para ir de encontro aos da boa gestão dos interesses públicos e colectivos.
Eu não quero referir-me ao caso concreto até porque não o conheço em pormenor, mas todos sabemos que há muito a fazer na correcta gestão dos recursos humanos do município, e que no caso concreto dos bombeiros isso é ainda mais conhecido, e é principalmente do seu próprio interesse, e da imagem colectiva que apresentam junto dos cidadãos, que essas mudanças ocorram.
CT – O que tem para dizer àqueles que não acreditam na coligação e que consideram que é “um casamento com fim anunciado”?
Não sei bem quem são esses. Claro que há alguns a quem interessa que esta partilha de gestão não dê certo, mas desses não só é fácil perceber as razões, como igualmente entender que essas não têm em primeiro lugar os interesses de Tomar e dos tomarenses.
Pelo contrário, a grande maioria dos tomarenses, sei que concorda com esta gestão conjunta. Todos percebem que uma câmara com um partido minoritário será sempre deficitariamente gerida, e que por outro lado, o obrigar de atenuar divergências e procurar pontos comuns e alcançar objectivos superiores às meras querelas partidárias, só pode ser mais vantajoso para a gestão municipal.
O PS como já muito referi, será fiel ao compromisso que assumiu assim se mantenham os considerandos que assistiram a esse entendimento.
A situação do concelho é difícil e há muito a fazer. Perder tempo com novelas de intrigas, interesses menos válidos, e até simples querelas e ódios pessoais não podem ser matérias que movam organizações responsáveis como o são PS e o PSD. Agora é tempo de dialogar e executar, os debates partidários vêm na altura própria. E isto sim, é política séria.
CT – Como analisa a posição do actual presidente da concelhia do PSD?
Se por posição actual entendermos o que disse na sua entrevista ao Cidade de Tomar, parece-me ser a posição correcta e responsável. Claro que será desejável que possamos reunir pontualmente, o que aliás estava previsto com a anterior direcção do PSD, não só para avaliarmos em conjunto o processo de governação, como para discutirmos em pormenor alguns dossiês onde as posições dos dois partidos têm sido mais ou absolutamente divergentes – o caso do Mercado Municipal por exemplo, ainda que neste caso, a posição do PSD, até pelas declarações do novo presidente nessa entrevista, seja agora mais próxima da do PS, e da defendida pela generalidade dos cidadãos.
CT – No âmbito de desenvolvimento do turismo no concelho, o que pensa do projecto do funicular recentemente apresentado?
Seria bom poder-se discutir seriamente esse projecto, significaria que o desenvolvimento turístico estaria já noutro nível, mas infelizmente não há qualquer viabilidade económica para sequer pensar em tal. É verdade que além disso tenho grandes dúvidas que fosse a melhor solução: não só a localização me parece pouco pertinente e atractiva para os turistas, como hoje há soluções para aquela curta distância, que em termos de custos de manutenção, gastos energéticos, impacte paisagístico e outros, parecem ser à partida muito mais interessantes.
CT – Quanto à situação económica e ao encerramento de empresas em Tomar, como vê o facto de, recentemente, uma empresa se ter instalado num concelho vizinho, lamentando não ter tido qualquer resposta por parte da Câmara de Tomar quando a contactou, tendo em conta que o PS defende a criação do Gabinete do Investidor?
Aí está um dos pontos onde as sucessivas câmaras do pós 25 de Abril em Tomar, todas, muito têm falhado. Tomar não sabe receber bem os investidores, numa época em que já nem isso chega, é preciso ir atrás deles! E em muitos concelhos à nossa volta, é isso que tem sido feito. Torres Novas tem sido um grande exemplo, e Ourém tem agora projectos interessantes nessa matéria.
É em primeiro lugar uma questão de filosofia: a Câmara existe para resolver problemas e não para os criar. Mas em especial durante os mandatos de António Paiva isso não aconteceu. Depois, compreendendo e assimilando essa filosofia, com princípios de pragmatismo e pró-actividade, é preciso organizar os serviços da câmara e incutir nos recursos humanos os mesmos princípios. O gabinete do investidor é um bom exemplo disso mesmo, mas muitas vezes, e até pessoas com responsabilidade, nem o conceito assimilam. O gabinete do investidor não é um sítio onde está um ou mais funcionários à espera que apareça o investidor. É sim, existirem funcionários com atribuições específicas, acompanhadas por formação e instrumentos, para que sempre que apareça um investidor com um projecto, o mesmo seja imediatamente acompanhado, aconselhado, encaminhado. Mas como comecei por dizer isso não chega, é preciso ir atrás dos investidores, criar razões para que venham até ao concelho. E não é preciso inventar muito, basta com alguma diferenciação de identidade e projecto, seguir as boas práticas que outros já executam.
CT – Em sua opinião, quais as obras e/ou acções mais urgentes em Tomar?
Aquelas que o PS defendeu no seu programa, questões concretas como uma resolução definitiva para o problema do mercado municipal, e que passe sempre pela manutenção do mercado de frescos naquele local; a dignificação da nossa maior praça, a Várzea Grande; pensar no centro histórico como um todo e dotar-lhe identidade competitiva, a filosofia de centro comercial de ar livre; começar a pensar no que fazer com a antiga FAI; resolver a questão do Convento de Santa Iria, e ajudar a encontrar uso para as antigas instalações do hospital militar; recuperar os principais centros urbanos das freguesias; apoiar as associações com estratégia e perceber que ali está um imenso potencial de entre mais, promoção desportiva, cultural e turística, com capacidade de criação de riqueza e emprego; ou acções mais amplas, como olharmos mais para os dois rios e usá-los para promover o concelho; o mesmo com o Convento e todo o património arquitectónico que ainda não soubemos explorar economicamente; elevar a festa dos tabuleiros a um outro nível de promoção e encontrar formas mais regulares de cartaz de ofertas, apostando no que fazemos de melhor e procurar também alguns novos eventos, percebendo que por exemplo uma forte aposta no turismo sénior pode ser uma boa valência para Tomar, especialmente quando conjugada com outros factores, tal como a proximidade de Fátima; e resolver o problema do Flecheiro e da comunidade que lá vive; e olhar para os jovens como garante de futuro, encontrar incentivos à sua fixação, por exemplo através de bolsas de habitação a custos controlados; e tanto tanto mais, que talvez seja bom começar pelo aparentemente mais simples: reorganizar os serviços da câmara, estimulá-los, dotá-los de melhores capacidades, gerir bem os recursos, aproveitar as tecnologias, aproveitar a formação e prestar a inexistente aos funcionários, pôr a cada dia mais, os serviços do município ao serviço de quem se destinam, de Tomar e dos seus habitantes.
CT – Como presidente concelhio do PS de Tomar, partido do Governo, qual a sua opinião acerca do PEC?
É preciso que se perceba que logo por princípio um Programa de Estabilidade Económica não é algo bom. Ou seja, se tudo estivesse bem não seria necessário. Mas a verdade é que a crise mundial que atravessamos, ampliada por algumas questões estruturais no caso português, obriga a que se encontrem formas de ultrapassar essas dificuldades, equilibrar as contas públicas e relançar a economia, normalizando o sistema que permita o desenvolvimento sustentado do Estado-Providência.
Claro portanto que nele constam medidas difíceis que, seguramente a um socialista não agradam. Como sejam por exemplo alguns cortes ao nível dos apoios sociais. Era também importante, apesar deste Governo ter procedido ao maior aumento de sempre do salário mínimo, que os salários mais baixos por exemplo até 1000 euros, não fossem congelados, enquanto que noutras questões se poderiam encontrar cortes mais justos, por exemplo nas acumulações de reformas elevadas, em especial de aposentados da Administração Pública, que depois continuam a prestar serviços para o sector público.
CT – Uma mensagem para os tomarenses…
Aos tomarenses digo o que sempre digo perante a vida: que não se conformem nem se alheiem, que critiquem, que exijam, mas que o façam com conteúdo, que não se limitem a repetir as críticas que a outros ouviram, que formem a sua própria opinião, que procurem saber o porquê das coisas e as consequências das causas. Que procurem contribuir para uma comunidade mais desenvolvida e capaz, que não desistam perante as contrariedades, e que acreditem e desenvolvam, em especial os mais jovens, as potencialidades de Tomar.
E que, conforme as suas ideologias, participem nos partidos e na discussão política. Não existe sociedade sem discussão política e assim, quanto mais e melhores nela participarem, melhores serão os resultados colectivos.
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