quinta-feira, dezembro 27, 2012

Anabela Freitas em discurso direto

Entrevista realizada pela candidata a Presidente da Câmara Municipal de Tomar, ao Jornal "O Cidade de Tomar", na sua edição de 28 de Dezembro.


1 - A sua candidatura à Câmara de Tomar significa a concretização de um objetivo delineado há bastante tempo?

A minha candidatura à Câmara de Tomar, significa a assunção de um percurso que considero natural. Já passei por funções executivas e por funções legislativas e entendo que a melhor forma de concretizar projetos, de poder fazer a diferença, de poder mudar a vida das pessoas, é em funções em que exista maior proximidade entre quem decide e quem é alvo dessas decisões. Assim, o trabalho numa autarquia é o que melhor permite aplicar, aferir e eventualmente corrigir, em tempo, as decisões tomadas.

2 - Com todo o ambiente sócio-económico que se está a viver, está preparada para enfrentar a campanha que se prevê difícil?

Será sem dúvida uma campanha disputada num ambiente com contornos diferentes. As pessoas vão exigir dos candidatos respostas. Vão exigir mudança, porque está visto que este caminho que vem sendo seguido não conduz a lugar nenhum. Não só pela conjuntura nacional, mas também pela situação do Concelho de Tomar. Mas por isso mesmo, entendo que deverá ser feita uma campanha diferente das anteriores. Também aqui mudar é um objetivo importante. Eu defendo uma campanha que parta de baixo para cima, que primeiro ouça e depois apresente soluções ou o caminho para a resolução dos problemas. Este é mais o tempo das pessoas e das suas opiniões e menos o tempo das certezas absolutas. Humildade para ouvir, determinação para executar, mudando. Porque não tenhamos dúvidas, a situação que irei encontrar, será uma situação muito difícil, e terei de ser audaz para enfrentar e resolver todos os problemas. E só com as pessoas isso será possível! Mudarei, também aí, a forma como se tem vivido em Tomar nos últimos 15 anos. As pessoas estão fartas do mesmo. E eu também. Ao fim de 46 anos, acho que está na altura de dar o meu determinado contributo para mudar a vida dos outros, para melhor, espero eu!

3 - O que pensa que vai ser mais difícil, uma vez que as pessoas estão cada vez mais fartas de políticos?

O mais difícil vai ser precisamente motivar as pessoas. Quanto a mim, as pessoas estão fartas de grandes promessas, de grandes discursos que depois resultam em nada. É preciso sermos assertivos e falar com verdade. Mudar a forma, mudar o estilo, mudar Tomar. Tem de haver a coragem para dizer que não podemos fazer grandes projetos, temos de falar verdade quando afirmamos o que podemos fazer. Envolver as pessoas neste processo é fundamental, por isso dizia há pouco que o processo tem de ser de baixo para cima. Isto não quer dizer que não saiba, onde entendo que o Concelho de Tomar deva estar daqui a 10 ou 20 anos, mas para aí chegarmos tem de haver um caminho construído em conjunto.

4 - Já definiu a sua equipa? Se sim, trata-se de uma equipa renovada?

A equipa não está formada. Não seria sério da minha parte ter uma equipa feita, antes de ter falado com todas as forças partidárias, tal como anunciei no dia 24 de novembro. E isso, tal como me comprometi, será feito até ao final de Janeiro.

5 - No caso de vencer, está preparada para gerir uma câmara com bastantes dificuldades?

O Município de Tomar tem efetivamente bastantes problemas, não só a nível financeiro, mas também a outros níveis, nomeadamente organizacionais e de posicionamento estratégico. A tarefa de gerir em situações adversas não é fácil. Julgo estar preparada para o fazer, por formação pessoal e por experiência profissional e política. Ao contrário do que sucedeu nos últimos anos, Tomar não  terá, previsivelmente, a possibilidade de acesso a tantos fundos comunitários e portanto o Município terá de ser criativo na busca de soluções. Na área financeira existem outros caminhos, que são inovadores, alguns em parceria com instituições financeiras, outros através de parcerias com a sociedade civil, que merecem ser avaliados.

O meu primeiro empenho virá a ser neste dossier: não podemos continuar a fugir dos problemas financeiros do Município, sob pena de poder ficar em causa, quer o serviço público aos cidadãos, quer a própria sustentabilidade do emprego no Município. As pessoas, cada um dos trabalhadores da autarquia por um lado, cada cidadão que aqui vive ou trabalha por outro, serão sempre o centro da minha atuação. Foi assim que fiz, durante quatro anos, enquanto Diretora do Centro de Emprego de Tomar, e é assim, só assim, que sei trabalhar. Do ponto de vista organizacional, existe um conjunto de práticas de relacionamento com o cidadão que estão disponíveis e ainda não foram aproveitadas. E finalmente no plano do posicionamento estratégico, não basta termos em Tomar a sede de um qualquer organismo, temos de saber onde nos integramos e para onde queremos ir.

6 – O facto de ser mulher é encarado como vantagem ou desvantagem, numa terra ainda, eventualmente, conservadora?

Estamos no século XXI e num dos trinta países mais desenvolvidos do mundo. Reconheço no entanto, que ser mulher, que introduz um fator diferenciador, porque existe uma forma de estar e de fazer, diferente entre homens e mulheres. As principais qualidades que entendo que um político deve ter são: a capacidade de ouvir, provocar compromissos, decidir em tempo útil. Considero que por vezes uma não decisão, tem mais custos que uma má decisão. Se são características só de mulheres, penso que não, mas sei que tenho essas características. Também aqui faz sentido mudar, sendo esta a aposta que o PS fez, ao apoiar a minha candidatura.

7 – Falou recentemente que o PS estaria disponível para um consenso com todas as forças partidárias (à excepção do PSD). Este consenso pode ser visto como uma abertura a uma possível coligação?

É claramente uma abertura a todos quantos queiram contribuir, quer com o seu conhecimento, quer com o seu trabalho, para melhorar o nosso Concelho. Agora se assume a forma de coligação ou outra, isso está ainda em aberto, porque como já disse, estou até ao final do mês de Janeiro a falar com todos. Uma coligação pré-eleitoral, dado o estado em que o PSD vai deixar o Concelho em 2013, seria útil e clarificadora. Precisamos em Tomar de compromisso e de trabalho conjunto, sem exclusão de ninguém. A atual situação exige, de todos, esse esforço e eu continuarei a fazê-lo.

8 – Não bastou a experiência da coligação com o PSD? Voltaria o PS a repetir?

Com o PSD houve, em 2010 e 2011, um acordo de partilha de poder, baseado em pressupostos que não se tendo concretizado, levaram o PS a terminá-lo. Quando foi feito, após as eleições de 2009, resultou de uma leitura honesta e responsável que o PS fez da realidade local. Fazer parte da solução e não do problema, foi na altura assumido. Continua a ser essa a minha postura.

Em Portugal não estamos muito habituados a coligações pré-eleitorais. Mudar o paradigma, também aqui seria, quanto a mim, muito positivo. Entende-se que uma coligação é junção de partes, quando eu entendo que é mais do que isso. Existem partes, muitas das vezes com abordagens diferentes de resolução dos problemas, mas a arte, se me permite, está precisamente em criar compromissos, porque o objetivo ultimo, é sempre a resolução dos problemas e a criação de oportunidades.

9 - Como carateriza os últimos 15 anos de governação em Tomar?

Como um desperdício. Um desperdício de oportunidades. Não nos podemos esquecer que nos últimos 15 anos, foram anos em que Tomar teve acesso a substanciais fundos comunitários, alguns nem sequer foram utilizados e outros desperdiçados. Foram feitas obras, muitas delas discutíveis, as quais se transformam mais num custo do que num investimento. Ficou por concretizar um novo Mercado Municipal, a recuperação do Flecheiro, a recuperação de muitas das estradas municipais do Concelho, das funções económicas nas Freguesias, por exemplo. Mas não só desperdiçamos fundos comunitários.
Não se soube também captar investimento, não se soube promover o Concelho, não se soube aproveitar a capacidade instalada, quer a nível associativo, na cultura e no desporto, quer a nível de património material e imaterial. Muito se falou e pouco se concretizou. Tomar é hoje, 15 anos passados de gestão do PSD, um Concelho mais pobre, mais pequeno, com menos capacidade de atrair pessoas e empresas. Nos primeiros 10 anos, entre 1997 e 2007, segundo dados do INE, Tomar passou do 59º lugar do índice de poder de compra do País para 91º, descendo assim 32 lugares. Foi, no Distrito de Santarém, ultrapassado por Constância, Barquinha, Torres Novas, Alpiarça, Almeirim, Rio Maior e Cartaxo.
Se dúvidas houvesse, basta ter isto presente, para se perceber que é preciso mudar de caminho. E é isso que pretendo e irei fazer!  

10 – No seu entender, o que poderia ter sido feito e a câmara nunca avançou? E o que poderia ter sido evitado?

Muito havia por dizer, mas deixo só alguns exemplos. Como já disse, o primeiro trabalho deverá ser precisamente o planeamento, faço esta obra em detrimento de outra porquê? E quando o planeamento falha, falha tudo. O Programa Polis deixou por concretizar o mais importante: a requalificação do Flecheiro e o novo mercado.  O mercado tem sido tema recorrente quer nas campanhas, quer em muitas das reuniões de Câmara, mas o que é certo é que nada foi feito. Porquê demorar quase 3  anos a cumprir uma deliberação, por unanimidade, para ir fazer esta operação de cosmética? Tanto tempo perdido.
Mudar esta atitude, é o que os tomarenses exigem. Estarei lá para o fazer.
Como dizia há pouco, os custos de uma não decisão, são por vezes superiores aos custos de uma má decisão. E voltando ao Programa Polis, ainda aguarda toda a população por saber qual a fatura que vai pagar. Mas podemos ainda falar de outros projetos que deveriam ter avançado e estão, digamos na gaveta, como a valorização das coleções visitáveis do Brinquedo, dos Fósforos, do Núcleo de Arte Contemporânea, do inexistente Museu Municipal João de Castilho, a requalificação da Várzea Grande, a dinamização do centro histórico, a dinamização de circuitos turísticos, a candidatura da Festa dos Tabuleiros a património imaterial da Humanidade, a gestão parcimoniosa dos edifícios do Município, a revisão do PDM, o apoio às Associações, o financiamento das Freguesias, só para dar alguns exemplos.
Não deveria ter avançado, unilateralmente com a decisão de recorrer a um tribunal arbitral para o ParqT, devido ao impacto financeiro que representa para todos. Enfim, nem todo este Jornal chegaria para enumerar todas as oportunidades perdidas, mas basta passar pelas suas páginas ao longo dos últimos 15 anos, para se poder ler as inúmeras vozes, de todos os quadrantes políticos, em denúncia às situações. Ora é precisamente isso que é preciso em 2013: mudar de rumo. Para isso podem contar comigo!

11 - Concorda com a aposta da autarquia apenas no turismo como ponto forte para o desenvolvimento de Tomar?

Concordo que o turismo deverá ser uma aposta forte para o desenvolvimento do Concelho, mas não deverá ser a única vertente de desenvolvimento. Devemos diversificar a oferta e os mercados que pretendemos atingir. Ficarmos única e exclusivamente dependentes do turismo é redutor e perigoso. Por isso para além do turismo, defendo que é urgente captar investimento, quer nacional quer estrangeiro, que gere postos de trabalho. E penso que aqui o Instituto Politécnico de Tomar terá de ser um parceiro importante. Temos cá o know-how e não o aproveitamos porquê? Tomar tem condições para a instalação de empresas, mas precisa de fazer o trabalho de casa, nomeadamente terminar a revisão do PDM e alterar um conjunto de regulamentos, que entendo que funcionam como um fator de constrangimento à atividade económica.  

12 – Caso fosse eleita, quais as primeiras medidas para “voltar a dar vida” à cidade de Tomar?



 
À cidade e ao Concelho, permita-me, que todos somos Tomar. Quando for eleita, há várias frentes de ataque simultâneas. Primeiro como disse atrás tem de ser feito o trabalho de casa, terminar a alteração do PDM, as alterações de regulamentos e a criação, após 15 anos de promessas do PSD, do sempre falado gabinete de apoio ao investidor. Quem investe precisa de saber onde pode investir, como pode e que quadro regulamentar existe. Mudar o estilo, a forma, a visão, o caminho, com as pessoas, será sempre a minha conduta se merecer dos Tomarenses a confiança que, com eles, espero construir.

13 - Como potenciava a inserção da autarquia nos vários setores que a Administração Central e Regional dispõe em Tomar? Referimos as estruturas agrárias, no seu todo (agricultura, florestas, pecuária e agro alimentar), no turismo e no desenvolvimento regional?

Tomar deve acolher e trabalhar com todas as instituições públicas e privadas que aqui se encontram ou se venham a instalar. Parceria e otimização de sinergias é a palavra-chave. O Município deve liderar o caminho de Tomar, colaborando para que todas as instituições parceiras, trabalhem para a melhoria da economia e da qualidade de vida dos cidadãos do Concelho de Tomar.

14 - Como vê a reorganização administrativa e, no caso de Tomar, as fusões sugeridas pela Unidade Técnica?

O Governo do PSD e do CDS, decidiram criar um problema onde não havia nenhum. Em primeiro lugar, entendo ser necessária uma reorganização administrativa, mas como se trata de todo um “edifício” administrativo e legislativo, deveria ter sido abordado na sua totalidade. Mas começou-se pelas freguesias e no caso de Tomar, as fusões, não sugeridas mas impostas, acentuam algumas assimetrias e causam, pelo menos num caso alguma estranheza. O PSD local nunca teve a coragem de dizer quais as Freguesias que queria extinguir, por exemplo.

Com este modelo, acentuam-se as assimetrias na zona rural porque estamos perante um território que não tem uma cobertura eficaz de transporte interfreguesias, estamos perante uma população envelhecida, que recorre aos serviços das juntas de freguesia, muitas das vezes para tratar de assuntos que ultrapassam as competências das mesmas.
A dificuldade de acesso a um conjunto de serviços, contrariando precisamente um dos pilares que esteve na criação do poder local, que é a proximidade, pode gerar assimetrias sociais. E o caso, por exemplo, da proposta de extinção das freguesias da Beselga e Madalena, deixando Carregueiros como uma “ilha” isolada é um perfeito disparate. É preciso não esquecer que a freguesia assim criada, iria desde as proximidades de Alburitel até às proximidades de Santa Cita, numa distância maior que aquela que separa a cidade de Tomar da cidade do Entroncamento.

15 - Qual a sua posição relativamente à criação de entidades supramunicipais de que o Governo agora fala? Não poderá estar em causa o municipalismo e a identidade dos concelhos? Não será um contra-senso, quando por um lado se diminuem freguesias, e num futuro próximo, municípios?

O que Portugal precisava, neste contexto, era a “instituição em concreto das regiões administrativas”, conforme estipula a Constituição da República Portuguesa. A maior parte das pessoas não sabe, mas há três níveis de autarquias, designadas na Constituição: as freguesias, os municípios e as regiões. Este último nível existe, só a nível de organização do território, sem legitimidade democrática direta, que são por um lado as CCDR’s e por outro as Comunidades InterMunicipais. Uma trapalhada, com a qual nenhum governo até hoje, conseguiu lidar e organizar devidamente, especialmente depois do chumbo do referendo de 1998 sobre as regiões.

O posicionamento estratégico de Tomar deverá ser, no contexto da sua participação na Região de Lisboa e Vale do Tejo, numa ligação preferencial ao maior centro urbano na sua proximidade, a cidade de Leiria, e a otimização do corredor litoral, aberto com o IC9, ligando o património ao mar e do corredor ibérico da A23, para acesso ao maior mercado da península ibérica, a área metropolitana de Madrid.

16 - Fale-nos um pouco do seu percurso profissional e político, abordando a sua experiência como deputada na Assembleia da República.

Iniciei o meu percurso profissional em 1986 no Centro de Emprego de Torres Novas, como administrativa. Entretanto em 1991 abriu um novo Centro de Emprego em Salvaterra de Magos, projeto que considerei estimulante e que abracei. Regressei ao Centro de Emprego de Torres Novas em 1999 e vim para o Centro de Emprego de Tomar em 2005 até 2009, com as funções de diretora, após o que fui eleita como Deputada pelo PS, na Assembleia da República.

Aí integrei as Comissões de Trabalho, Segurança Social e Administração Pública, Ética, Sociedade e Cultura e a Comissão de Assuntos Europeus e mais recentemente as Comissões de Orçamento, Finanças e Administração Pública e a Comissão de Economia e Obras Públicas. Pertenci a um grupo de trabalho e fui coordenadora de outro grupo. Nos cerca de 18 meses de atividade parlamentar, intervim em plenário por diversas vezes e em matérias variadas. Mas a grande mais valia que recolhi da experiência parlamentar, foi sem dúvida a capacidade de obtenção de compromissos, fator essencial na prática legislativa e parlamentar.
Este conhecimento, estes anos de experiência profissional, pessoal e política, conto colocá-la ao serviço de Tomar e dos Tomarenses. Como mulher e mãe, julgo ser essa a minha obrigação.