segunda-feira, abril 26, 2004

APOLOGÉTICA À REVOLUÇÃO

Intervenção de Virgílio Saraiva, em nome do Secretariado, na GALA SOCIALISTA evocativa do 25 de Abril, que se ralizou na Associação de Minjoelho e que contou com a presença de mais de 100 socialistas e independentes.

E então foi Abril!

Primavera de um povo amordaçado e perseguido pelos sicários da consciência humana. Na noite escura acabava de raiar um sol livre por vontade daqueles que à Pátria nunca negaram. Porém muitos negaram as honrarias e o poder. Justiça e homenagem lhes seja feita!

Nas armas, brotaram cravos rubros em melodias de perfumes caprichosos. Nos corações da arraia-miúda, esse povo informe e abandonado, floriu esperança como quem respira felicidade. Cantaram-se trovas nas ruas cheias e abriram-se celas bolorentas de ódio. Da mistificada ingenuidade popular sobraram extravagâncias a seu tempo controladas. Construíram-se sonhos sobre as cinzas de um passado miserável, escreveram-se páginas de indesmentível ousadia e alvoroço. Libertaram-se gargantas há tanto estranguladas e fazendo jus ao poeta deram-se novos mundos ao mundo. Foram ecos de Revolução!

Só o Zé Manel e o Paulinho na sua urbanidade mimada de ignorância não perceberam. E passaram-se trinta anos!

Três dês (D) nos foram solenemente prometidos: Democracia, Descolonização, Desenvolvimento. E todos, com mais ou menos obstáculos, com mais ou menos erros, mais ou menos rapidez se foram concretizando. Até que trinta anos depois,... todos eles estão em perigo. Traçaram-lhe o destino o zanaga Zé Manel, o pueril Paulinho, a monstruosa Manuela e o felino Félix.

O Zé Manel e o Paulinho, agora no poder, em cada decisão apunhalam de modo indecoroso a Democracia. O Zé Manel e o Paulinho, agora no poder, actuam como uma nova geração de colonizadores. O Zé Manel e o Paulinho, agora no poder, consideram que o desenvolvimento só se alcança com a miséria de alguns ou quase todos. A Manuela e o Félix dão-lhes todo o apoio.

E como que por milagre transformaram a Revolução em Evolução porque tanto lhes convinha e convém, assim vão alimentando uma polémica de novela que só manifesta a autêntica desorientação de quem ignora por completo os mais correctos processos da governação. A imagem que nos querem dar hoje é a da evolução da ditadura que há trinta anos um punhado de rapazes afoitos liquidou.

O seu saudosismo foi de tal forma doentio que aproveitaram o Erre (R) agora roubado para nos presentear com uma vingança dos três Dês (D). Então impuseram-nos o Revisionismo, as Restrições e o Retrocesso. O Revisionismo para Desacreditar, as Restrições para Depauperar, o Retrocesso para Destruir.

O Revisionismo da nossa história alimentado no ego chauvinista da turba direitista que quer Desacreditar a coragem daqueles que por nós heroicamente se aventuraram. As Restrições, a todo o custo, sobre este povo que raramente tem tido oportunidade de alcançar melhores condições de vida, Depauperado por um qualquer déficit inventado sempre que a direita está no poder. O Retrocesso infligido nas mais nobres conquistas sociais que foram obtidas ao longo de um percurso espinhoso de muitos anos, Destruindo de uma vez por todas o sonho magnífico de 25 de Abril.

E passaram-se trinta anos! Apelam por nós os “nossos egrégios avós”. Exige-nos a consciência que não devamos sucumbir perante tão feroz ameaça. Recuperemos então os Dês (D) e Erres (R) que outros querem transformar. Temos, pois de lhes dar outro sentido linguístico, outro sentido político, outro sentido de vida, outro sentido social.

Um D de Dignidade e um R de Resistir, ou então um R de Resposta e um D de Democrática para que os nossos adversários sem escrúpulos saibam que é com Dignidade que se Resiste à violência desumana com que nos querem espoliar, esse é o nosso modo de dar uma Resposta Democrática.

Um D de Dever e um R de Realização, ou então um R de Responsabilidade e um D de Decisão, para que todos compreendamos que temos o Dever de Realizar um país novo virado para o futuro, sem olvidar o nobre passado, assumindo a nossa Responsabilidade na hora da Decisão.

Um D de Direito e um R de Resultado, ou então um R de Riqueza e um D de Distribuição, porque todos – mas todos – têm Direito a usufruir dos benefícios para cujo Resultado contribuíram. Só com uma equitativa Distribuição da Riqueza é possível alcançar e garantir um razoável nível de vida para todos.
Façamos a conjugação linguística que quisermos mas recuperemos os Dês que nos legaram e os Erres que nos querem usurpar, para devolver ao nosso povo uma razão para acreditar em nós. O Partido Socialista tem essa obrigação!
E passaram trinta anos e o Zé Manel, o Paulinho, a Manuela e o Félix ainda não perceberam isso?

Dizia o poeta na "Ode Marítima", "...cumpra-se Portugal.", pois que se cumpra num consumar urgente do 25 de Abril para que a esperança não seja apenas uma palavra vã. Cumpra-se Portugal nesse Abril de cravos rubros erguidos ao vento como saudando os destemidos capitães da madrugada. Que se cumpra em Liberdade, Fraternidade e Solidariedade.

O Partido Socialista tem essa obrigação!

Escuta-se já o clamor do povo invadindo as ruas: o país,...o concelho apelam urgentemente por nós. Saibamos com serenidade e humildade dar resposta a esse apelo porque esse povo merece e nós lhe devemos.
E passaram trinta anos.

E então foi Abril,... Primavera de esperança,... Rubros Cravos,... Revolução!...
É Abril!... É Revolução!!!



Informação da responsabilidade do Secretariado da Concelhia do PS de Tomar